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A importância da atividade física para a saúde mental

Publicado em: 25/09/2025

A atividade física sempre esteve presente na rotina da humanidade, evoluindo desde a Pré-história, onde era vital para a sobrevivência, até se sistematizar na Idade Contemporânea, universalizando seus conceitos na atualidade (1). 
 

Hoje, o reconhecimento científico da importância da prática regular de atividade física na saúde do indivíduo é cada vez maior, sendo vista como uma estratégia crucial para a prevenção de doenças e a promoção da saúde (1). 

 

Como o corpo e a mente estão conectados

A saúde é definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não meramente a ausência de doença (2; 3; 4). 
 

O comportamento humano é classificado em três domínios inter-relacionados: cognitivo (atividades intelectuais), motor (movimentos) e afetivo-social (sentimentos e emoções) (3). Já a atividade física, expressa no domínio motor, possui componentes e determinantes de ordem biopsicossocial, cultural e comportamental.  (1). 

 

Estudos sugerem que a prática de exercícios físicos pode interferir positivamente no desempenho cognitivo, melhorando a circulação cerebral e alterando a síntese e degradação de neurotransmissores. Além disso, a atividade física pode aumentar o fluxo sanguíneo cerebral, e consequentemente, o aporte de oxigênio e outros substratos energéticos, o que proporciona a melhora da função cognitiva. Por este motivo, pessoas fisicamente ativas demonstram um processamento cognitivo mais rápido (1). 

 

Endorfina, serotonina e dopamina: o trio do bem-estar
 

A prática de exercício físico aeróbico pode aumentar a atividade de enzimas antioxidantes e a liberação de diversos neurotransmissores. Isso porque há um aumento nas concentrações de norepinefrina e serotonina após uma sessão aguda de exercício, e mesmo após um período de treinamento, a concentração de norepinefrina continua elevada (1).  

Essas alterações neurobiológicas afetam diretamente o humor e atuam como ansiolíticos, contribuindo para a redução da ansiedade. Uma das hipóteses mais aceitas sobre a ação dos exercícios na ansiedade e depressão é a das endorfinas. Esta teoria sugere que a atividade física desencadeia a liberação de endorfinas, capazes de provocar um estado de euforia natural, aliviando os sintomas da depressão (5; 6; 7). Além disso, a atividade física regular pode influenciar a plasticidade cerebral, aumentando a densidade vascular no córtex cerebelar e mantendo a integridade cerebrovascular (1). 


 

Benefícios da atividade física para a saúde mental

A literatura evidencia amplamente os benefícios da atividade física para a saúde mental, que vão desde a melhora da autoestima até a prevenção e tratamento de distúrbios mais sérios (1; 6). 


 

Redução do estresse e da ansiedade

A atividade física é um excelente suporte para combater os efeitos nocivos do estresse sobre o organismo. O estresse crônico pode elevar os níveis de cortisol, causando aumento do apetite, ganho de peso e supressão do sistema imunológico. Além disso, produz sensações persistentes de ansiedade, impotência e fracasso iminente (1).
 

A prática regular de exercícios promove uma redução significativa da ansiedade e atua como um mecanismo compensatório em situações de estresse, angústia e ansiedade, proporcionando alívio das tensões, prazer, relaxamento e bem-estar (3; 6; 8). 


 

Prevenção e auxílio no tratamento da depressão

Estudos epidemiológicos sugerem que pessoas moderadamente ativas têm menores riscos de serem acometidas por desordens mentais do que as sedentárias. Portanto, a atividade física pode ser considerada uma medida eficaz para o tratamento e prevenção de doenças psiquiátricas como a depressão (1; 5; 7).
 

O exercício regular moderado é considerado relevante no tratamento da depressão e ansiedade, melhorando o bem-estar mental da população em geral. Para a depressão moderada a grave, a atividade física atua como um complemento valioso ao tratamento profissional (3; 5).
 

O exercício aeróbico, em particular, pode produzir uma melhora substancial no humor em pacientes com depressão maior em um curto período (3).

 

Melhora da autoestima e da qualidade do sono

A prática regular de exercícios físicos também está diretamente ligada a uma melhora significativa na qualidade do sono. Estudos apontam que a atividade física contribui para um descanso mais profundo e reparador, além de favorecer um padrão de sono mais saudável. Esse benefício é especialmente importante na vida adulta, pois ajuda a reduzir os efeitos do envelhecimento, promovendo maior disposição, autonomia e bem-estar no dia a dia (2). 


 

Contribuição para o foco e a clareza mental

A atividade física melhora as funções cognitivas como a percepção, aprendizagem, memória, atenção, vigilância, raciocínio e solução de problemas. Pessoas ativamente envolvidas em atividades físicas sistemáticas otimizam sua saúde mental, pois percebem uma melhora do humor e ânimo, o pensamento se torna mais lógico, crítico e criativo, e há mais agilidade nas respostas a estímulos internos e externos. Isso aumenta a capacidade de concentração e contribui para uma melhor condição mental de superação das crises e problemas do dia a dia (1). 


 

Práticas recomendadas de atividade física para o bem-estar emocional

  • Caminhada, corrida e exercícios aeróbicos: programas de exercícios aeróbicos, como a caminhada, demonstraram melhorias significativas na atenção, memória, agilidade e humor em idosos. Recomendam-se para adultos 30 minutos ou mais de atividade física de intensidade moderada na maioria, ou preferencialmente, todos os dias da semana (1; 2; 3). 

     
  • Yoga e meditação em movimento: práticas espirituais não convencionais, como a meditação, yoga e mindfulness, podem propiciar hábitos de vida saudáveis, incluindo a prática de atividade física regular e de lazer (9). 

     
  • Atividades em grupo e seu impacto social: a atividade física tem um importante significado na sociedade quando utilizada para estimular a socialização, com reflexos positivos na vida adulta. Programas de exercícios podem ajudar a aumentar a autoestima, a criatividade e a socialização, possibilitando a melhora da qualidade de vida (3). 

 

Cuidados ao iniciar uma rotina de exercícios

Embora os benefícios da atividade física sejam vastos, é crucial adotar uma abordagem cuidadosa e planejada ao iniciar uma rotina de exercícios para garantir a segurança e a eficácia.


 

Avaliação médica e preparo físico

É fundamental que a atividade física seja adequadamente planejada, executada, controlada e avaliada por um profissional capacitado. Quase não há contraindicações para a participação de pacientes com transtornos mentais em programas de exercícios físicos, desde que não apresentem nenhum problema cardiovascular grave ou infecção aguda (3). 


 

Respeitar os limites do corpo

É válido também alertar que a prática de atividade física, se utilizada de maneira incorreta e excessiva, pode se tornar prejudicial e até mesmo uma obsessão para alguns indivíduos. O excesso de treinamento pode levar à síndrome de overtraining, caracterizada por queda de rendimento, distúrbios do sono, redução da libido e do apetite, alterações de humor como apatia, irritabilidade e depressão (6). 


 

A importância da regularidade, e não da intensidade

Os estudos evidenciam que a atividade física realizada com regularidade e moderada intensidade contribui para a manutenção e recuperação da saúde em geral e está positivamente associada à saúde mental e social. Enquanto o exercício moderado melhora o humor, o exercício intenso pode levar à deterioração do humor (3; 6). 


 

Atividade física é um investimento em saúde emocional 

A adoção de comportamentos saudáveis é o principal caminho para a otimização da saúde mental, e a atividade física é uma ferramenta imprescindível para a promoção da saúde. A prática regular de exercícios, com base em um referencial teórico que associa um estilo de vida saudável ao hábito da atividade física, leva a melhores padrões de saúde e qualidade de vida (1). 
 

O uso do exercício físico como alternativa para melhorar a função cognitiva e a saúde mental é relevante, especialmente por sua aplicabilidade, sendo um método relativamente barato que pode ser acessível à grande parte da população (1). 
 

Nunca é tarde para iniciar um programa de exercícios físicos, pois contribui para uma "reserva cognitiva" ao longo da vida. A atividade física não só proporciona benefícios fisiológicos, mas também acarreta melhores sensações de bem-estar, humor e autoestima, além da redução da ansiedade, tensão e depressão (1; 5). É um investimento contínuo na saúde emocional, que se reflete em uma vida mais plena e equilibrada.


 

Fontes  

1 – OLIVEIRA, E. N. et al. Benefícios da atividade física para saúde mental. Saúde Coletiva, São Paulo, v. 8, n. 50, p. 126-130, 2011. Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=84217984006.

 

2 – FERNANDES, H. M. et al. A influência da atividade física na saúde mental positiva de idosos. Motricidade, Vila Real, v. 5, n. 1, p. 33-50, 2009. Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=273020559004.

 

3 – TAKEDA, O. H.; STEFANELLI, M. C. Atividade Física, Saúde Mental e Reabilitação Psicossocial. REME Rev Min Enferm, 2006. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/reme/article/view/50777

 

4 – ADAMOLI, A. N.; AZEVEDO, M. R. Padrões de atividade física de pessoas com transtornos mentais e de comportamento. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 14, n. 1, p. 243-251, jan./fev. 2009. DOI: https://doi.org/10.1590/S1413-81232009000100030.

 

5 – COSTA, R. A.; SOARES, H. L. R.; TEIXEIRA, J. A. C. Benefícios da atividade física e do exercício físico na depressão. Revista do Departamento de Psicologia - UFF, Niterói, v. 19, n. 1, p. 269-276, jan./jun. 2007. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-80232007000100022.

 

6 – PELUSO, M. A. M.; ANDRADE, L. H. S. G. Atividade física e saúde mental: a associação entre exercício e humor. Clinics, São Paulo, v. 60, n. 1, p. 61-70, 2005. DOI: https://doi.org/10.1590/S1807-59322005000100012.

 

7 – MELO, L. G. S. C.; OLIVEIRA, K. R. S. G.; VASCONCELOS-RAPOSO, J. A educação física no âmbito do tratamento em saúde mental: um esforço coletivo e integrado. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, São Paulo, v. 17, n. 3, p. 501-514, set. 2014. DOI: https://doi.org/10.1590/1415-4714.2014v17n3p501-8.

 

8 – SILVA, G. C.; SILVA, R. A. S.; NETO, J. L. C. Saúde mental e níveis de atividade física em crianças: uma revisão sistemática. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, São Carlos, v. 25, n. 3, p. 607-615, 2017. DOI: https://doi.org/10.4322/2526-8910.ctoAR0905.

 

9 - MOREIRA, W. C. et al. Efeitos da associação entre espiritualidade, religiosidade e atividade física na saúde/saúde mental: revisão sistemática. Revista da Escola de Enfermagem da USP, São Paulo, v. 54, 2020. DOI: https://doi.org/10.1590/S1980-220X2019012903631.


 

Autor: Myralis
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