
A saúde mental infantojuvenil é um campo que tem ganhado crescente atenção, com movimentos recentes buscando avançar na compreensão de dimensões que vão além do modelo médico-psiquiátrico tradicional. Há um reconhecimento da importância de fatores como experiências, afinidade com o campo e formação profissional no cuidado com a saúde mental de crianças e adolescentes. (1)
Para isso, é essencial entender que a saúde mental infantil envolve aspectos emocionais, comportamentais e sociais, sendo influenciada pelo ambiente em que a criança vive e, portanto, a promoção da saúde mental desde a infância é crucial para o bem-estar geral e para o desenvolvimento da criança. (1; 2; 3)
A importância de cuidar da saúde mental das crianças
A saúde mental das crianças é um dos pilares para um desenvolvimento pleno e saudável. Ela influencia não apenas o bem-estar emocional, mas também o desempenho escolar, os relacionamentos interpessoais e a capacidade de enfrentar os desafios cotidianos. (1; 2; 3)
Por que falar de saúde mental na infância?
Estudos realizados na América Latina e no Brasil indicam que entre 12% e 35% das crianças e adolescentes apresentam algum tipo de problema de saúde mental, dependendo do método de avaliação utilizado (2). Por isso, a intervenção precoce e as práticas de promoção de saúde mental podem fazer uma diferença significativa em suas vidas. (1)
A inclusão da saúde mental infantil na agenda das políticas de saúde é relativamente recente. No Brasil, houve um movimento para a criação de uma política específica de saúde mental para crianças e adolescentes, integrada ao Sistema Único de Saúde (SUS). Este movimento visa criar uma rede de cuidados que responda efetivamente às necessidades desta população. (2, 4)
Fatores que comprometem a saúde mental infantil
Diversos fatores podem afetar a saúde mental das crianças, incluindo fatores contextuais e experiências adversas. Além disso, problemas econômicos e sociais também podem influenciar. (1)
Dentre os fatores mais comuns, podemos destacar: (5; 6; 7)
- Fatores familiares: ambientes familiares conflituosos, violência doméstica e negligência emocional são fatores de risco significativos. A ausência de apoio parental pode dificultar a construção de vínculos saudáveis e a autorregulação emocional;
- Ambiente escolar: dificuldades de aprendizagem, bullying e exclusão social têm grande impacto na saúde mental das crianças. Estudos mostram que crianças que enfrentam bullying têm maior risco de desenvolver transtornos de ansiedade e depressão.
- Desigualdade social: a pobreza e a falta de acesso a recursos básicos, como saúde e educação, também são fatores que agravam o sofrimento psíquico infantil.
Sinais de alerta para se atentar
É importante estar atento a sinais como agressividade, dificuldades de aprendizagem, baixa tolerância à frustração, desinteresse pela escola, comportamentos de depressão e isolamento. Esses sinais podem indicar que a criança precisa de atenção e suporte. (8; 9)
Como cuidar da saúde mental das crianças?
Cuidar da saúde mental infantil requer a criação de um ambiente seguro, acolhedor e estimulante, que permita à criança desenvolver habilidades emocionais e sociais. Os estudos utilizados como base para esta pesquisa, que você encontra no final deste conteúdo, indicam várias estratégias importantes para promover a saúde mental infantil, com foco no bem-estar emocional, social e comportamental da criança. (4; 8)
A seguir, destacamos algumas estratégias eficazes!
Comunicação clara e acessível
A comunicação é um pilar fundamental no cuidado com a saúde mental das crianças. É essencial que os adultos se comuniquem de forma clara e acessível com as crianças, criando um ambiente onde elas se sintam seguras para expressar seus sentimentos e preocupações. (3; 6)
Evitar sobrecarga mental
Embora atividades extracurriculares sejam importantes, o excesso de compromissos pode gerar estresse e ansiedade nas crianças. Garantir momentos de lazer e descanso é essencial para um desenvolvimento equilibrado. Crianças precisam de tempo para brincar, explorar e relaxar, sem a pressão de cumprir uma agenda lotada. (6; 8)
Permitir a expressão das crianças
É crucial que as crianças se sintam ouvidas e valorizadas. Profissionais de saúde mental, incluindo enfermeiros, destacam a importância de garantir o direito à palavra e à escuta. Ouvir e valorizar a criança ajuda na produção do cuidado de si e do outro. Além disso, atividades como desenhos, jogos e brincadeiras ajudam as crianças a expressar suas emoções de maneira saudável. (1; 3; 6)
Entendimento e valorização das emoções das crianças
Paralelamente à liberdade de expressão, uma abordagem que valorize o bem-estar emocional da criança é essencial. Isso inclui ajudar a criança a entender suas emoções e a lidar com elas de forma saudável. O cuidado deve ser centrado na produção do cuidado de si e do outro. (1; 3; 6)
Ensinar a solucionar problemas
Incentivar as crianças a explorar oportunidades de resolução de problemas e aprender com eles é importante. Os profissionais de saúde mental, com o apoio e envolvimento dos pais e responsáveis, podem desempenhar um papel fundamental no desenvolvimento dessas habilidades. (1; 3; 5; 6)
A importância de se criar uma rotina
Ter rotinas organizadas e respeitadas nos ambientes em que vivem, especialmente na escola e na família, é essencial para a saúde mental infantil. A rotina ajuda as crianças a se sentirem seguras e organizadas. Por isso, ter horários consistentes para dormir, comer, brincar e estudar contribuem para um maior senso de estabilidade e ajudam a evitar situações de estresse. (1; 3; 6)
Cuidando do Presente, Construindo o Futuro
Promover a saúde mental das crianças é uma responsabilidade compartilhada entre pais, educadores e profissionais de saúde. Ambientes acolhedores, comunicação aberta e acesso a cuidados especializados são elementos essenciais para garantir o bem-estar emocional infantil. Para agir e ajudar as crianças em relação à saúde mental: (8)
- Esteja atento aos sinais de alerta: identifique mudanças no comportamento, dificuldades de aprendizagem e sinais de sofrimento emocional;
- Promova um ambiente de apoio: crie um ambiente onde as crianças se sintam seguras para expressar suas emoções e necessidades;
- Busque ajuda profissional quando necessário: se os sinais de alerta persistirem, procure ajuda de profissionais de saúde mental, como psicólogos e psiquiatras;
- Rede de apoio: família, a escola, os serviços de saúde e a comunidade são essenciais para um cuidado integral.
O sofrimento psíquico infantil, quando não tratado, pode levar a prejuízos significativos na vida adulta, reforçando a necessidade de atenção desde os primeiros anos de vida. Por isso, investir na saúde mental das crianças é investir em um futuro mais saudável e equilibrado para a sociedade. (8)
Referências
(1) FERNANDES, A. D. S. A.; TÃNO, B. L.; CID, M. F. B.; MATSUKURA, T. S. A saúde mental infantojuvenil na atenção básica à saúde: da concepção às perspectivas para o cuidado. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 2022. DOI: https://doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAO23473102.
(2) COUTO, M. C. V.; DUARTE, C. S.; DELGADO, P. G. G. A saúde mental infantil na Saúde Pública brasileira: situação atual e desafios. Rev Bras Psiquiatr, 390-8, 2008. DOI: https://doi.org/10.1590/S1516-44462008000400015.
(3) SILVA, E. M.; SILVA, D.; APARÍCIO, G.; BICA, I.; ALBUQUERQUE, C.; CUNHA, M. Promoção da saúde mental das crianças: contributos dos enfermeiros. Acta Paul Enferm, 2020. DOI: https://doi.org/10.37689/acta-ape/2020AO0254.
(4) COUTO, M. C. V.; DELGADO, P. G. G. Crianças e adolescentes na agenda política da saúde mental brasileira: inclusão tardia, desafios atuais. Psicol. Clin. Jan-Jun, 2015. DOI: https://doi.org/10.1590/0103-56652015000100002.
(5) CID, M. F. B.; SQUASSONI, C. E.; GASPARINI, D. A.; FERNANDES, L. H. O. Saúde mental infantil e contexto escolar: as percepções dos educadores. Pro-Posições, Campinas, v. 30, 2019. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1980-6248-2017-0093.
(6) BRAGA, C. P.; D’OLIVEIRA, A. F. P. L. Políticas públicas na atenção à saúde mental de crianças e adolescentes: percurso histórico e caminhos de participação. Ciênc. Saúde Colet, 2019. DOI: https://doi.org/10.1590/1413-81232018242.30582016.
(7) CARVALHO, J.; DUARTE, M. L. C.; GLANZNER, C. H. Cuidado em saúde mental infantil no contexto da Estratégia da Saúde da Família: estudo avaliativo. Rev Gaúcha Enferm, 2020. DOI: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2020.20190113.
(8) SANTOS, P. L. Problemas de saúde mental de crianças e adolescentes atendidos em um serviço público de psicologia infantil. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 11, n. 2, p. 315-321, mai./ago, 2006. DOI: https://doi.org/10.1590/S1413-73722006000200010.
(9) LAURIDSEN-RIBEIRO, E.; TANAKA, O. Y. Problemas de saúde mental em crianças: abordagem na atenção básica. São Paulo: Annablume, 140 p., 2005. DOI: https://doi.org/10.1590/S1413-81232009000200036.




